Carta aos marcianos
Caros marcianos:
Permitam-me que vos apresente a minha cor favorita: o azul.
No planeta Terra, onde eu habito (não por vontade própria), o azul está presente em todo o lado, desde as nuvens que embriagam passarinhos livres e envolvem o nosso planeta até às profundezas dos oceanos.
O azul está presente nos nossos corações, com mais incidência nos habitantes do Norte de um país chamado Portugal e é o meu caso, se isso vos interessar. Está presente na brisa suave que se sente nas florestas numa tarde de primavera. Imaginem-se a passear entre as vossas árvores cinzentas enterradas em terra cinzenta e virem o rosto para o vosso céu cinzento claro (isto se não estiver a chover, obviamente), fechem os olhos e sintam a brisa fresca a arrepiar-vos a pele, sabe bem, não sabe? Isso, para nós, é azul.
Azul é mais que uma cor, é um sentimento, é a esperança de um futuro melhor, é o símbolo da luta e da descoberta de novos mundos, já que foi através da imensidão azul daquilo a que nós chamamos de oceanos, que não é senão uma vastidão enorme de um líquido incolor a que chamamos água, que o nosso povo, os habitantes do anteriormente mencionado Portugal, viajou e descobriu a existência de outros países. Sim, o nosso planeta é pequeno, mas é rico em cor, temos o arco-íris com sete cores diferentes, temos o mar e o céu que, dependendo das condições atmosféricas, se transformam e assumem todas as tonalidades de azul, desde as mais claras quando está calor ao azul-escuro, quase preto, quando há tempestades.
Com muito gosto vos levaria um pouco do nosso azul, mas como? Como se transporta e se transmite um sentimento, uma sensação, um toque? Se eu retirasse um pouco da água do mar ou um farrapo de uma nuvem, perderiam a cor, deixariam de ser azuis. Portanto, se querem conhecer as nossas cores, em especial, o azul, venham cá. Deixem os vossos cinzentos e venham embriagar-se com as nossas cores.
Disse-me o José, que esteve aí dez anos, que vocês não têm guerras como nós. Mas que paz é essa que não tem cor? Como celebram vocês a paz? Com que tom de cinzento? Nós celebramos o amor com vermelho, a amizade, o calor e a alegria com amarelo, a esperança e a liberdade com verde, a magia com roxo, o sucesso e a prosperidade com cor-de-laranja, a pureza com branco, a integridade com castanho, a ternura e a ingenuidade com cor-de-rosa e a tranquilidade, a serenidade e a harmonia com azul. O preto e o cinzento, para nós, são cores a evitar, simbolizam a morte, o medo, a solidão e a neutralidade.
Portanto, meus queridos Marcianos, venham à Terra conhecer as nossas cores, em especial o azul. Mas venham de coração aberto, mais aberto ainda que os olhos, pois só assim conseguirão ver e sentir as nossas cores em toda a plenitude.
Com todo o respeito e amizade,
Uma terráquea de coração azul,
Marina Carreira